“Se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará” (Gl. 5:2)
A corrida da fé é também uma corrida em busca da liberdade, mesmo quando não se sabe ao certo a qual liberdade está-se reportando. Liberdade do pecado, dos medos, das pulsões da “carne”, das angústias da alma, da culpabilidade. Sim, foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Afinal, ninguém pode dizer que é feliz estando na condição de escravo, a não ser que seja masoquista. Paulo, porém, quer mostrar um tipo de liberdade muito mais globalizante: a liberdade de consciência. Não há cárcere mais aprisionador que nossa própria consciência. Viver mentalmente encarcerado, ou com a consciência “pesada”, é estar alijado (separado) do processo de libertação, é decair da Graça, conforme Paulo. O apóstolo perseguido, humilhado, difamado: não estaria ele pregando a libertinagem e levando o povo à viver uma vida dissoluta? Não seria a circuncisão uma solução mais sedutora que a própria liberdade pela Graça?
Quantas acusações infundadas, dúvidas geradas, erros cometidos por causa desta difamação da Graça, por aqueles que, muito antes, haviam sido instruídos a viverem conforme a mesma. Equívocos históricos ainda correntes entre nós, cristãos, que, por enquanto, apenas ensaiamos vivenciar a liberdade para qual Cristo nos libertou. Ainda hoje pode-se ouvir vozes dissonantes em relação a Paulo, ressonâncias judaizantes, pregando um “outro evangelho”, acrescentando artifícios à fé, cedendo à tentação da autojustificação: “Livres sois, pois, mediante a lei, por esforço pessoal, e isto provém de vós, para vossa própria salvação”. Não seria este o “evangelho” que ainda se tem pregado?
Na verdade, em tantos casos, não se prega mais a Palavra, mas julga-se “tomar posse” da palavra em si, a tal ponto de poder mudá-la “um pouquinho”, como uma síndrome judaizante. É por isso que a Graça fere tanto, e é por isso que é tão escandalosa, apesar de ser a mais essencial das pregações. Posto que, ao mesmo tempo em que ela livra das prisões e cadeias do ser, ainda torna nulas as tentativas de se viver uma fé “capenga”, que, por um lado, incita a uma “liberdade” combinada com individualismo, confundida com licenciosidade, e, por outro lado, produz o que chamo de responsabilidade excessiva, do legalismo e do mérito pessoal.
A liberdade de consciência, para a qual Cristo nos libertou, só pode ser vivida em amor, assim como o peixe só encontra liberdade dentro d’água, usando a analogia de John Stott. Essa liberdade não anula a responsabilidade, nem tampouco a Graça, visto ser ela mesma (a liberdade) fruto da Graça, ou seja, resultante deste “favor imerecido” que Cristo, em forma de servo sofredor e obediente, conquistou pra nós na Cruz.
Jonathan Menezes
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