A cada dia percebo o quanto a vida é menos o que ganhamos, e mais o que recebemos... E o recebemos (de uma perspectiva teológica) nem sempre (ou quase nunca) porque merecemos, trabalhamos, somos honrados, os melhores, e por tudo isso possuímos todo o mérito necessário que nos faz olhar para a situação e pensar: “Puxa, eu realmente mereço estar na posição em que estou, ser quem sou, ter o que eu tenho”. Não...
O caminho de Jesus Cristo me faz enxergar que a vida é dádiva, não possessão, de modo que, se é dádiva, é também entrega, afinal de contas, tudo aquilo que supostamente é meu, conquistado com meu suor e trabalho, na verdade não é...
É, sim, fruto da graça de Deus, por intermédio da fé, a qual, como disse José Miguez Bonino, “não é um novo recurso ‘da carne’, um novo esforço, talvez o mais extraordinário, de nossa existência ensimesmada: é um ato de Deus”. (Ama e faze o que quiseres, p. 72).
Não estou dizendo que tudo cai do céu como num passe de mágica. É claro que todos comemos, bebemos, nos vestimos e nos sustentamos como fruto de nosso trabalho. É óbvio que colhemos o que plantamos – embora nem sempre, já que muitas vezes tenho que colher o que os outros plantam, seja para o bem ou para o mal. O grande erro está na atitude que tenho para com isso, quando passo a tratar a vida como possessão, e não como uma dádiva pela qual devo ser grato, sempre...
E essa gratidão não significa “olhar para o céu”, e simplesmente dizer: “Obrigado Deus”. Implica que, se recebi de graça, de graça também entregarei como princípio do Evangelho. Pela misericórdia fui alcançado para ser misericordioso também com quem necessita. “Bem aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5.7).
Gostei de um vídeo de Rob Bell, o 23º da série Nooma, chamado “Corner”. Especialmente quando ele, paradoxalmente, diz que “Deus não é justo” e que devemos “espalhar sua injustiça por aí”, solapando o mérito e a suposta “justiça”. Pensando bem, Deus realmente não é justo, pelo menos não da maneira como nós imaginamos que deveria ser, de acordo com nossa idéia de justiça... Foi contra essa idéia que Jesus se opôs aos fariseus. É também contra essa justiça falaciosa que esse vídeo foi feito, a meu ver.
Sendo assim, Deus não seria justo, mas também não seria injusto; Ele é o que é, ou seja, é sempre mais do que podemos pensar ou cogitar teologicamente, embora nunca consigamos fugir de proferir a sentença conceitual: “Deus é...”.
Jonathan
Assistam ao vídeo de Rob Bell no You Tube: http://www.youtube.com/watch?v=g2nrp2L219A
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