terça-feira, 4 de agosto de 2009

Contextualização





Jesus Cristo, verbo eterno e homem universal.


Não há evangelho a parte da experiência humana, fora de uma cultura concreta, a contextualização não é uma mera particularização da mensagem eterna e universal, é a própria plenitude dessa mensagem para um homem definido, participante de um grupo com características bem distintas.


A igreja dentro de determinada cultura, deve encontrar seu modo de ser entre o cuidado em manter a sua identidade e expressar plenamente o seu significado. Precisa aliar ao conhecimento da sua missão, tradição e essência, o conhecimento da cultura que a circunda, a história do povo que a rodeia e os desafios de sua época, adequando-se sabiamente a tudo isso.


Espera-se, portanto, do cristão, duas atitudes igualmente prudentes: em primeiro lugar, uma atitude de celebração e de alegre participação nas atividades culturais que facilitem a plena expressão do evangelho; em segundo, a rejeição enfática de tudo aquilo que venha ameaçar a sua identidade como discípulo de Jesus Cristo.


Podemos dizer que a cultura é os diversos agrupamentos sociais, as idéias e artes, as crenças e os costumes.

Consequentemente a cultura, como manifestação humana, tem a sua legitimação na vontade de Deus.

Uma vez que o homem é criatura de Deus, parte de sua cultura é rica em beleza e bondade. Pelo fato de o homem ter caído, toda a sua cultura (usos e costumes) esta manchada pelo pecado e parte dela é de inspiração demoníaca.

A cultura se organiza através de 3 sistemas integrados: sistema adaptativo (ação do homem sobre a natureza), sistema associativo (modos de organização das relações interpessoais e normas de convívio social), sistema ideológico (idéias – compreensão e experiências).


Há uma dimensão fluida, dinâmica, perante a qual as instituições, inclusive a igreja, precisam se adaptar. O grande desafio da igreja é sobrepor-se aos esquemas rígidos e as teologias estáticas e preparar-se para ser o sal e luz num mundo constantemente em mudança, mantendo sua ligação em Cristo e a fidelidade à palavra de Deus.

A uma tendência do cidadão em desvalorizar as culturas que rejeitam os seus valores ou que apresentam costumes diferentes dos seus.


Algumas vezes o missionário envolvido em missões transculturais se depara com costumes bem diferentes dos seus e precisa tomar decisões serias e de longo alcance sobre normas doutrinarias, organização de igrejas e postulados éticos. Isso exige dele sabedoria cristã e discernimento do Espírito.

O etnocentrismo cultural – tendência de considerar as características de sua própria cultura como parâmetro para todas as demais – tornou o missionário transcultural mais um transplantador cultural do que um proclamador das boas novas.

Saber como e a que se adequar, ou em outras palavras, descobrir os limites do processo de contextualização, é tarefa que exige certo discernimento e o estabelecimento de alguns critérios. Discernir o essencial do acidental, o eterno do temporal, o principio ético da norma legal, não são tarefas aleatórias, norteadas pelos caprichos de um grupo qualquer. São funções de uma igreja que quer continuar sendo igreja de Jesus Cristo, submissa ao Espírito.


A igreja como propósito de Deus carrega uma dimensão transcultural, mas, como comunidade de homens, só existe efetivamente numa situação histórica e cultural. Por ter nascido da vontade de Deus, a igreja é santa, mas como comunidade dos homens é pecadora. A igreja traz em si mesma as marcas da ambigüidade humana e as manchas resultantes do pecado. Por isso, toda a sua proclamação se resume na Graça, dentro de uma postura de humanidade. Eis porque a sua primeira tarefa é consigo mesma: a igreja deve reconhecer a sua ambigüidade e viver em constante autocrítica e conseqüente arrependimento.


O primeiro e único propósito da igreja é a diferença (santidade) e não a semelhança (sincretismo). A santidade da igreja, portanto é o limite absoluto de toda e qualquer contextualização.

A santidade (separação) da igreja, entretanto não é um fim, é o meio para a redenção do mundo.

A três dimensões principais da igreja que devem encontrar sua expressão máxima na cultura onde está incerida: proclamação da redenção total do homem e sua história; o serviço ao homem e à comunidade e a celebração da vida e do amor de Cristo. Pois o evangelho é o anuncio da Graça de Deus em Jesus Cristo, que liberta o homem de todo e qualquer “poder”.

E estas boas novas de libertação são transmitidas pela novidade de vida e pela disposição em servir.


Ao contar histórias, Jesus valorizava a vida do povo como portador de mensagens e lições do Reino, e criava uma identidade e uma base comum para o dialogo, abrindo espaço para que o novo – a presença do reino de Deus – se estabelecesse concretamente no antigo – a existência cotidiana do povo.

Ele tinha grande conhecimento nas escrituras e seu modo de extrair a mensagem do Reino era por meio de acontecimentos corriqueiros, das flores e das arvores, do trabalho do agricultor, da dona de casa e da fuga do filho do fazendeiro. Seu estilo de pregação era reforçado por imagens tiradas da vida cotidiana.


E assim é com a igreja, quando ela participa da cultura ela cresce e ao mesmo tempo isso contribui para libertá-la de seus determinismos e redutores, abrindo-lhe a possibilidade de sair de si mesma ao acrescentar-lhe a dimensão transcultural.


Quando a palavra é levada ela deve ser extremamente clara e contextualizada para que haja uma correspondência real com a cultura na qual ela esta sendo incerida, mas devemos ter cuidado para evitar que na busca pela clareza, o conteúdo se perca.


Uma das tarefas da igreja é facilitar o acesso de todas as pessoas às suas palavras. O evangelho é o anuncio de novas palavras, plenas de significado e de alegria, à velha ordem social.



Késia Kelly

Texto extraido do livro: Um jumentinho na avenida.




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